Por: Gustavo Albuquerque
Estivemos no 10º Congresso Nacional da Soja, tradicional evento promovido pela Embrapa Soja, que ocorreu em julho no Expo D. Pedro em Campinas.
Conversamos com Alexandre Nepomuceno, Chefe-Geral da Embrapa Soja.
Na conversa, Alexandre conta o histórico do evento e das discussões que aconteram durante o evento.
Confira a entrevista abaixo:
Feiras do Brasil: Alexandre,fala sobre Congresso Brasileiro da Soja e o histórico desse evento tão importante.
Alexandre Nepomuceno - "Olha, o Congresso, nós estamos na décima edição, uma edição histórica pra nós, porque estamos comemorando os 50 anos da Embrapa Soja, a Embrapa Soja que vem organizando esse evento aí nos últimos anos.
Ele é um evento que a gente tem dito que é o maior evento desse tipo da cadeia produtiva de soja no mundo, porque ele reúne todos os players, todos os participantes do setor. Tanto que você tem aqui produtores, você tem a indústria, a indústria de fertilizantes, a indústria de defensivos, academia, universidades, professores, muitos alunos participam aqui. Então é um momento de você, junto com a cadeia, discutir os problemas, buscar soluções, apresentar potenciais soluções.
Mas mais que isso, eu sempre digo, é um momento de ver as grandes oportunidades. Então a gente tá falando de uma cultura que hoje é responsável, acabou de sair os dados por 6,3% do PIB nacional, dados do CPE, mais de 2,2 milhões de empregos no Brasil. E mais que isso, até a soja às vezes é criticada por ser uma cultura de grande produtor, mas o ano passado a Embrapa Soja, junto com o IBGE, fez uma publicação mostrando que hoje existem mais de 265 mil produtores de soja em todo o Brasil, sendo que 70% deles possuem menos de 50 hectares, principalmente no sul do Brasil.
Mais pra cima você tem produtores com áreas maiores. Mas assim, é uma cultura que a gente diz que ela é democrática, porque você tem também pequenos produtores familiares, principalmente no sul, que dependem da cultura da soja, que é a principal fonte de proteína barata do mundo. Inclusive o pessoal, às vezes, que é leigo, brinca, por que essas plantas de tanta soja, por que não plantam alimentos? E a gente tem que explicar que a soja é a base da ração dos animais para fazer o frango, fazer o porquinho, fazer a tilápia, fazer o leite, o ovo, o queijo.
As pessoas não sabem disso. E esse evento aqui, ele traz esse tipo de informação, porque a gente traz toda a cadeia, as empresas também, portadores e exportadoras estão aqui. Nós estamos tendo nesse ano, a primeira vez, participação de empresas chinesas.
Temos um grupo grande de chineses que participam em empresas e o pessoal da Academia Chinesa de Ciências Agrárias, da Academia Chinesa de Ciências, empresas de genética da China e de equipamentos, que querendo ou não é o principal parceiro comercial do Brasil. No ano passado, a gente exportou mais de 80 milhões de toneladas para a China. E aí vem um pouco essa questão de agregação valor que eu estava falando, que o Brasil hoje exporta 60% da sua soja.
40% está ficando aqui para fazer justamente o frango e o porco. Mas se tu olhar os Estados Unidos, eles já estão mudando a chave. Eles estão usando, principalmente olhando para essa transição energética, os óleos vegetais, e a soja é o mais abundante no mundo, junto com o óleo de palma, para a produção de biodiesel, para a produção do combustível de aviação, que é o SAF, para a produção do biodiesel vértico, que é o HVO.
Muitas empresas, se eu olhar nos Estados Unidos, eu acho que é um momento, nesse tipo de evento, de também sensibilizar o setor químico brasileiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, muitas indústrias já usam o óleo de soja para a produção de pneus, de asfalto, fibras terrestres, sola de sapato. Por que isso é importante? Porque agrega valor.
Agrega valor, mantém os recursos do nosso país, gera emprego aqui. Então, o Congresso Brasileiro de Soja, na sua décima edição, a gente espera receber mais de duas mil pessoas, traz esse público diverso. É um ano importante também, porque é o ano de COP30 no Brasil.
Então, nós temos vários painéis aqui que vão estar mostrando a sustentabilidade da agricultura brasileira. Temos, sim, problemas pontuais, mas eles são exagerados muitas vezes. A maior parte da produção brasileira é feita sob condições de sustentabilidade.
E quando eu digo sustentabilidade, é ambiental, social e econômica. Inclusive, nós, da Embrapa Soja, criamos um programa chamado Soja Baixo Carbono, justamente para mostrar com ciência e com números o quão sustentável é a nossa produção, com plantio direto, fixação biológica no nitrogênio, manejo integrado de pragas. Todas são práticas que reduzem as emissões, sequestram o carbono.
A gente tem que botar isso em números. E é isso que eu projeto o Soja Baixo Carbono. E voltando para o Congresso, a gente está usando o Congresso para mostrar toda essa sustentabilidade da nossa cadeia.
Fora outras coisas que vão ser discutidas aqui. E a importância, a gente sabe que a Embrapa é um hub de inovação, tecnologia e conhecimento."
Feiras do Brasil: Para a Embrapa, qual a importância de reunir todo o ecossistema da soja nesse evento para vocês?
Alexandre Nepomuceno - "Entender as demandas e mostrar coisas que, às vezes, o próprio setor, o produtor, não está enxergando. Por exemplo, como tecnologias inovadoras. Nós tivemos, nos anos 90, uma tecnologia que quebrou paradigmas. Foi a soja resistente a herbicidas, a soja transgênica.
Foi bastante polêmico, infelizmente, porque acabou limitando a poucas empresas, só as commodities e a poucas características resistentes a insetos e herbicidas. Nós vivemos uma revolução na genética. Então nós temos o CRISPR, edição gênica que se fala tanto.
Está vindo muitas novas características, mexendo com a arquitetura de planta, mexendo com resistência a doenças, mexendo com capacidade fotossintética da planta, que até a gente vai comentar, o potencial teórico de produtividade da soja é de 12 toneladas por hectare. Potencial teórico. E aí a pergunta é, será que essas tecnologias, quando você mexe, por exemplo, o número de legumes na planta, o número de grãos na planta, será que você, usando essas tecnologias, você vai quebrar esses patamares? Então, aqui nesse evento, a gente também usa para trazer isso.
E aqui o produtor, o empresário do setor agrícola brasileiro, também invista, que isso é uma outra coisa importante. Nós só chegamos a ser essa potência na produção de alimentos no Brasil com muita ciência e tecnologia. E para se manter sustentável, a gente só vai se manter com ciência e tecnologia.
E, de novo, o motivo sustentável é econômico, ambiental e social. É interessante, é importante que empresas multinacionais venham para o Brasil, tragam suas tecnologias. Nós temos a nossa Petrobras, esse é o jogo.
Mas é muito importante também que o produtor brasileiro, o empresário brasileiro do água, se antene nessas tecnologias quebradoras, paradigmas. Edição Jânica, o RNA Interferente é outro, daqui a pouco a gente está falando que tem potencial tremendo para ser um aliado no controle de pragas, fungos, ervas daninhas. É uma tecnologia que ninguém está falando.
Já tem uma empresa grande americana vindo para o Brasil. Nós da Embrapa estamos trabalhando e usamos esses momentos, onde tem toda a cadeia, para apresentar essas tecnologias."
Feiras do Brasil: Como é que você enxerga a IA no mercado de soja?
Alexandre Nepomuceno - "Sem dúvida, a agricultura digital, a agricultura de precisão, a gente começou falando da agricultura de precisão, depois da agricultura digital e agora, sem dúvida, o Big Data. Não adianta você ter o Big Data, se você não tiver o Right Data, o dado certo. Como é que você vai interpretar esses grandes volumes de dados? E aí, todos nós estamos usando, uns mais, outros menos, mas é incrível como essa tecnologia, de uma maneira às vezes até assustadora em algumas situações, mas especificamente na agricultura, lidar com esses grandes volumes de dados, usar a inteligência artificial para interpretar, por exemplo, o melhor momento de aplicação de um inseticida na lavoura, para interpretar qual é o melhor momento de colheita, para interpretar, baseado junto com imagens, sensores em tempo real, tudo isso alimenta a inteligência artificial.
E para também, por exemplo, no meu caso, que sou da área de genética, por exemplo, em uma planta de soja, você tem mais de 50 mil genes ligando e desligando ao mesmo tempo. A gente estuda e vê esses genes, mas como é que eu interpreto esse network? Então, a inteligência artificial está vindo com uma força absurda em todas as áreas, da genética, do censoramento remoto, do uso de sensores em tempo real, na própria movimentação de máquinas no campo, é realmente uma coisa incrível, que vem com uma força que, como eu disse, às vezes até assusta, mas é uma tecnologia que a gente não tem como ficar sem."
Feiras do Brasil: Para finalizar, qual foi o desafio de construir essa edição desse congresso? E como é que você enxerga qual vai ser o principal legado dessa edição?
Alexandre Nepomuceno - "Olha, nós somos bons parceiros, é um momento que a gente está acompanhando uma guerra tarifária no mundo, então muitas empresas se retraem, muitos produtores se retraem, mas a gente está tendo uma participação muito grande de todos os setores da cadeia produtiva da soja aqui.
Tivemos, sim, a existência de um jeito ou outro, pelo menos pelas razões que a gente está falando, o pessoal está muito assustado com o que está acontecendo na questão comercial mundial. A soja, nosso principal parceiro, é a China, aparentemente nesse momento não está sendo afetado, mas quando você tem uma multiplicação de tarifas do principal país, da principal economia do mundo, tudo isso pode dar um efeito cascata que a gente vai ver com o tempo. Então, inclusive aqui é um dos momentos importantes de você ter toda a cadeia para discutir soluções e mesmo oportunidades dentro dessa situação.
O legado eu acho que é esse, é manter a comunicação aberta nessa história de 50 anos da Embrapa Soja. Eu acho que o congresso reflete o que foi a nossa história. A Embrapa Soja, o Centro Nacional IPC Soja, sempre esteve próximo de todos os setores, seja o produtor, seja a assistência técnica, seja a indústria, seja as empresas que exportam, importam soja, para a gente discutir qualidade de soja.
Então, eu acho que esse é o grande legado das outras instituições, mas principalmente dessa que comemora os 50 anos da nossa unidade."
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* Gustavo Albuquerque é editor-chefe do portal Feiras do Brasil.
Engenheiro e jornalista, atua a quase 20 anos na geração de
conteúdo e informações voltadas ao segmento de feiras
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